Novidades - O universo de Alok - Privilège Brasil

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Um ‘Paralello’ entre a tradição musical e a ascensão meteórica ao topo das paradas nacionais. Confira a matéria da Privilège MAG na íntegra.

 

Por Guilherme Schröder e Raphael Paradella

 

 

Na capital federal, Alok Petrillo nasceu em berço cultural. Avô cineasta, avó desenhista, tios fotógrafos e os pais... Simplesmente Swarup [Juarez Petrillo] e Ekanta Jake. Os dois pioneiros na cena trance nacional, também criadores do renomado festival Universo Paralello, deram como herança genética a paixão pela música eletrônica aos gêmeos Alok e Bhaskar. Com aproximadamente uma década de vida, os irmãos deram o play na pick-up tendo os tios – além dos pais – como tutores. E realmente foi apenas o começo.

 

 

No início, os irmãos formavam o projeto Lógica. Mas, aos 19 anos, separaram-se para seguir caminhos diferentes. Bhaskar firmou outros dois projetos, enquanto Alok seguiu em produções e mixagens na carreira solo. Como embaixador e herdeiro do Universo Paralello, consolidou a Up Club, pista do festival até então tida por muitos como underground, como uma marca forte na cena e, atualmente, uma tour independente pelo país.

 

 

Sem acreditar em rótulos, em pouco tempo foi reconhecido como uma potência da música eletrônica nacional. Hoje, aos 23 anos, carrega o título de DJ #1 do Brasil – eleito pelo público no chart da House Mag em 2014, é atração confirmada nos principais festivais do país, como na edição tupiniquim do Tomorrowland, que rola este ano, acumula milhares de seguidores nas redes sociais, onde se faz muito presente e estampa capas e entrevistas nos principais veículos especializados em música eletrônica.

 

 

Com o Privilège, a história começou em Juiz de Fora e logo se tornou amizade. Na virada do ano, ele estava na estreia do Réveillon Privilège Guarapari marcando o começou de 2015 na vida de quase de duas mil pessoas. Mas foi em uma noite despretensiosa, no quarto de hotel durante a turnê nacional, que, sorridente, conversou com nossa equipe. Ali rolou este papo de DJs. Uma conversa à vontade e com cara de muitos bons amigos.

 

 

 

 

 

 

Como foi o início da sua carreira e quando de fato começou o seu envolvimento com a música?

 

Alok: Bom, meu pai e minha mãe são DJs também, pioneiros do psy trance no Brasil. Então, logicamente, fui criado na música eletrônica. Aos 6 anos de idade, ainda quando morava na Holanda, minha mãe começou a tocar. Devido a essa formação no meio, aos 11 anos de idade comecei a tocar com meu irmão Bhaskar, muito mais pela influência direta deles. Ainda não era algo profissional. Mas, naquela época, eles não queriam que eu também tocasse profissionalmente...

 

 

 

Por algum motivo?

 

Eu era muito novo. Eles queriam que eu estudasse. Tudo começou como uma brincadeira, só que essa brincadeira acabou ficando séria.

 

 

 

Quando?

 

Quando meu pai nos colocou para tocar no Réveillon 2004 do Universo Paralello para seis mil pessoas. A gente já tinha tocado na Psycholand, em Brasília, para quase 800 pessoas, que foi a primeira festa da minha vida. Contudo, aquele momento no UP ficou marcado na memória de muita gente: os "menininhos", os novinhos filhos de Ekanta e Swarup, tocando. A partir de então, começamos a viajar para vários estados, sempre na companhia dos nossos pais. Sozinhos não íamos, éramos muito novos. Porém, aquela imagem das "criancinhas" do Universo Paralello, que era algo que impressionava de certa forma, mudou e perdeu o charme quando viramos adolescentes.

 

 

 

Foi neste momento que virou profissão?

 

Passamos a ter mais responsabilidades e foi aí que a gente começou a produzir música, pois somente como DJ não ia virar. Neste momento, a música entrou na nossa vida. Enquanto muitos só queriam saber de jogar 'video game', nosso 'game' de fato era fazer música.

 

 

 

E como foi a repercussão?

 

Em 2007 foi a estreia do projeto Lógica, de psy trance, no Universo Paralello. Ao lado do meu irmão, fiz muitas viagens até 2010, incluindo tour nacional e internacional em diversos lugares: África do Sul, Estados Unidos e muitos festivais da Europa. Neste ano, meu irmão casou e acabou optando por não continuar no projeto. Antes de conclui-lo, eu já estava com o 'Alok' em mente. Segui sozinho e criei, também, esse outro projeto de 'low bpm'. O Alok surgiu, então, em 2010, e o Lógica ficou mais esporádico.

 

 

 

Como você distingue esses dois projetos?

 

O Lógica vem muito pelas tendências e influências do meu pai e de tudo o que ele apresentou pra gente. Foi uma fase muito legal da minha vida. Quando o meu irmão voltou, retomamos o projeto para não deixar morrer mesmo. O Alok é o que vem do fundo do meu coração.

 

 

 

Quais foram as maiores influências na consolidação do seu estilo musical?

 

É até engraçado. Quando era o 'trance', a minha maior influência era o 'techno' e o 'low bpm'. Agora que estou no 'low bpm', a minha maior influência é o 'trance'. Vou te contar... (risos)

 

 

 

Por que esse paralelismo, essa inversão?

 

Quando fazia ‘trance’, trazia à tona os elementos minimalistas do 'low bpm' na minha forma de produzir. Agora, eu trago o peso do 'trance'. É o equilíbrio dos dois.

 

 

 

O mercado atual vem exigindo mais 'ter que produzir' do que apenas 'ser DJ'. Na sua opinião, é um requisito para o reconhecimento ter um trabalho autoral?

 

Falou tudo. A verdade é que o DJ, antigamente, conseguia se consagrar pela apresentação, mesmo se ele não tivesse produções próprias. As pessoas não tinham conhecimento total ou acesso sobre quem era o DJ, apenas pela música ou discotecagem. Hoje isso mudou. Para se ter reconhecimento, o primeiro passo é a produção. Quando as pessoas pedem uma dica, eu sempre respondo: "Você quer ser DJ? Show! Mas se você quiser ter reconhecimento, crescer e ter isso como profissão para viver, você tem que produzir, cara". Porque as pessoas vão reconhecer seu crescimento pela produção. É um trabalho completamente diferente. O DJ precisa saber trabalhar na pista de dança e usar esse conhecimento para complementar suas produções.

 

 

 

É um cenário que vem mudando muito...

 

Hoje em dia, está muito mais fácil você expandir seu trabalho pelas redes sociais. Você consegue expor sua música de forma muito mais acelerada. O primeiro passo é a produção. DJ que já criou um nome, pode ter certeza, é antigo. Os DJs que se consagraram sem suas próprias produções são da velha guarda. Até se consagraram, por exemplo, Carl Cox, minha mãe, meu pai, Rick Amaral, mesmo quase não tendo produção... Mas eles são de uma época diferente, quando não era tão importante ter a música própria. Hoje em dia é primordial. Eu não conheço um que se consagrou sendo apenas DJ atualmente.

 

 

 

 

 

Você figura entre os maiores nomes da atualidade, seu nome está nos maiores festivais dentro e fora do país. A que você atribui isso?

 

Eu acho que é a somatória de tudo. É dedicação, esforço e muito trabalho. Toco há 10 anos. Eu sempre arrisquei muito em fórmulas novas. Em qual sentido? Muitas vezes, nós seres humanos temos que ver algo acontecendo ou sendo realizado para poder crer. É parte da nossa natureza. Agora, quando você começa a acreditar em algo que ainda não deu certo, mas em que você vê o diferencial, é onde vai trazer coisas novas. É acreditar em algo que ainda não está em evidência, não está bombando e nem consolidado. É fazer acontecer e só depois ver o resultado. Acreditei muito nisso tudo.

 

 

 

Isso que você fala é a definição de ser um visionário...

 

Eu não queria falar essa palavra para não soar ou parecer um pouco arrogante, mas acaba sendo. A gente falar que é visionário é um pouco tendencioso (risos), mas acredito em fazer algo diferente. E tem outra: eu tenho uma grande equipe, que pensa junto comigo. Eu atribuo o mérito ao conjunto da obra.

 

 

 

Seu nome está, ao mesmo tempo, no line de megafestivais, como também em diversos clubs do país, bem menores. A pergunta é se você concorda que são pistas completamente diferentes. Se sim, como você desenha o set para cada uma delas, para cada público... Você visualiza essa divisão na elaboração do set?

 

Perfeitamente, concordo mesmo com isso. São realidades diferentes e cada club tem a sua. Cada região tem uma característica própria. Não adianta a gente querer fazer um formato só porque cada lugar tem uma forma diferente de trabalhar. Eu me adapto, sou flexível. Não sou cabeça fechada e isso é um dos grandes pontos pelos quais eu não cresci mais no Lógica.

 

 

 

Como assim?

 

Eu era dessa forma, muito ‘xiita’ no sentido de cabeça fechada mesmo. Aquele meu set de trance psicodélico conceito era tanto para festas comerciais quanto ‘underground’. Eu não mudava minha fórmula e isso foi o maior erro. Cada lugar tem um público, um set e uma aceitação. Não adianta você querer impor. Uma coisa que eu vejo muito no Brasil é que o país gosta de seguir ‘aquele’ artista. Na Europa, por exemplo, as pessoas se importam muito mais com o som e nem ligam para a pessoa que está tocando. Por isso, é muito mais difícil você ser grande na Europa, são poucos que conseguem. No Brasil, as pessoas se importam muito com quem está tocando, quem está fazendo a coisa acontecer. Já toquei em festas na Europa, por exemplo, com nomes fortes da cena nas quais sequer era divulgado o line. As pessoas vão mais pela música.

 

 

 

Na sua percepção, quais são os grandes nomes da cena atual?

 

Olha, eu vou te falar o seguinte. Grandes nomes são aqueles de sempre, os caras que se tornaram lendas vivas. Eu posso dizer quem eu acho que serão os grandes nomes amanhã?

 

 

 

Perfeitamente... quem são essas promessas?

 

Elephantz está vindo com tudo, Gui Boratto é o cara e o Doozie apresenta um conceito diferente. O Dazzo não toca, mas está fazendo as melhores músicas que eu vejo atualmente. Quando ele começar a aplicar, vai estar impagável. Vintage Culture está indo muito bem. Nacionalmente, temos muitos nomes bons: Volkoder, Gabe, Gustavo Mota, Victor Ruiz, Alex Stein... Acho que a cena brasileira está muito boa. Eu estou falando não só de produção, mas ‘feeling’ também.

 

 

 

E o que ouve fora da vertente eletrônica?

 

Cara, eu sou muito ligado na música eletrônica. Mas eu gosto de escutar deep, sons e bandas experimentais e pessoas que vieram renovando. Adoro Criolo e Emicida, que têm ideais por trás. Eles me influenciam como pessoas, pela boa índole. Cada dia eu fico mais chato e não consigo ouvir aquela mesmice. Quando vem algo diferente, eu adoro ouvir.

 

 

 

'Freedom' é uma das mais pedidas pela galera do Privilège, principalmente do público feminino... Como foi a parceria com o Gabe?

 

Estava em São Paulo e liguei para o Gabe: "Vamos fazer a música que estávamos afim de fazer?" Foi ocasional mesmo. Engraçado que eu não a toco. Toquei duas vezes na minha vida e se não tivesse feito acho que seria apedrejado da boate (risos). As pessoas pediam tanto que eu toquei e vi que a repercussão dela é monstruosa.

 

 

 

Mas por que não toca?

 

Cara, eu não consigo encaixar no set. Eu amo a música, adoro e entendo porque ela bomba... Engraçado, né?

 

 

 

O seu som mescla uma pegada mais pesada originária do techno com o groove da house music, muito bem aceito pelo público ‘mainstream’...

 

Sabe o que é mais legal? Quando as pessoas me perguntam: “Alok, qual é o seu som? O que você toca?” Eu não sei descrever. Acaba fugindo de todas as fórmulas...

 

 

 

Fórmulas ou rótulos?

 

Na verdade, você quebra barreiras. Quando a pessoa escuta uma música, ela fala: “Isso é Alok”.

 

 

 

Você ousaria dizer que essa percepção de público é proposital e vem de uma identidade musical?

 

É até irônico ou contraditório dizer isso, mas eu posso criar um nome para a minha linha de som. Contudo, isso seria rotular. Cara, o que toco está sendo muito bem aceito no 'mainstream'. Isso me deixa bastante animado, pois ao mesmo tempo em que eu toco numa festa super comercial, também toco na D-Edge e está tão certo quanto.

 

 

 

 

E como sente a percepção do público lá de fora? 

 

Na Europa aconteceram duas coisas inusitadas. Na primeira, eu estava tomando um coquetel na torre de Berlim e começou a tocar uma música minha. Foi muito tocante. Outra coisa importante é que eu tocava minhas músicas próprias na Europa e elas bombavam muito. Eu vi que a aceitação lá foi muito boa, embora as pessoas não soubessem quem eu era. O nome Alok ainda não está tão forte, mas o som bombou muito. Eu voltei muito acreditado e inspirado.

 

 

 

Diante disso, como fica sua rotina atual com tantas viagens?

 

Eu diria que sou um cigano. Passo mais tempo em avião, aeroporto e hotel. Agora, inclusive, acabei de gravar um '24 horas com Alok', passando por cinco estados: Alagoas, Pernambuco, Bahia, São Paulo e Sergipe. Uma loucura, cara. Não é nem saudável, né? (risos). Nem sou eu quem formula a minha rotina. Apenas sigo cronogramas. Eu vivo pra isso neste momento, como estratégia de trabalho. Mas eu quero chegar a um determinado momento e inverter isso. Tocar um pouco menos e ter uma vida mais regrada e linear.

 

 

 

E talvez produzir ainda mais, certo?

 

Exatamente. Conseguir focar em outras coisas, como na minha produção, gravadora, no UP Club... Olha, não deixaria ou pararia de trabalhar, mas como apresentação artística diminuiria o ritmo.

 

 

 

Quais são os projetos para este ano?

 

O que está garantido: uma turnê na Europa, nos Estados Unidos, o lançamento do meu primeiro álbum no segundo semestre, começar a produção do meu documentário – que deve ser lançado só em 2016 – e a abertura da minha gravadora.

 

 

 

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